quinta-feira, 11 de junho de 2015

Sou obrigado?



Um senhor me acusou de desrespeitoso e mal-educado. Motivo? Não quis falar com ele ao telefone. Não o conheço, sabia que ele queria fazer críticas — “construtivas” — ao meu trabalho. Não me interessei em saber quais eram.

Uma colega me conta que sua mãe lhe diz: “Sua amiga de infância esteve aqui e está louca para revê-la. Quando posso marcar o encontro?” Minha colega não tem interesse em saber como está essa pessoa, nem deseja reencontrá-la.

Uma filha atende o telefone e diz ao pai: “Fulano quer falar com você”. O pai responde: “Diga que não estou”. “Mas ele diz que quer muito falar com você.” O pai: “Sim, mas eu não quero falar com ele!”

Afinal de contas, quem está com a razão? Aquele que se sente ofendido por não ser ouvido ou recebido? Ou quem se acha com o direito de só receber as pessoas que lhe interessam?

Quem faz questão de colocar sua opinião tem direito a isso ou é prepotente por achar que o outro tem que ouvi-lo, apenas porque ele está com vontade de falar? Ou é egoísta e desrespeitoso aquele que só fala e recebe as pessoas que lhe interessam ou quando está com vontade?

Acho fundamental tentarmos entender essas questões aparentemente banais, uma vez que elas são parte das complicadas relações no cotidiano de todos nós. Elas envolvem questões morais e dos direitos de cada um. Tratam do que é justo e do que é injusto.

Acredito que é direito legítimo de cada um falar ou não com qualquer outra pessoa. O fato de ela querer muito nossa atenção não nos obriga a aceitar sua aproximação. E isso independe das intenções de quem deseja o convívio.

Posso, se quiser, recusar a aproximação de uma pessoa, mesmo que ela venha me oferecer o melhor negócio do mundo. E o fato de uma pessoa me amar também não a autoriza a nada! Não pode, apenas por me amar, desejar que eu a queira por perto. Ao forçar a aproximação com alguém que não esteja interessado nisso, a pessoa estará agindo de modo agressivo, autoritário e prepotente.

As belas intenções não alteram o caráter prepotente da ação. Na verdade, egoísta é quem quer ver sua vontade satisfeita, mesmo se isto for unilateral. Ele não está ligando a mínima para o outro.

O mesmo raciocínio vale para as pessoas amigas. Não tem o menor sentido eu ir à casa de um amigo para dizer-lhe o que penso de uma determinada atitude sua que não me diz respeito, mesmo que eu não tenha gostado ou aprovado. Ele não me perguntou nada! Ainda que goste muito de mim, talvez não queira saber minha opinião. Talvez não deseje saber a opinião de ninguém! É direito dele.

Pode também acontecer o contrário: a pessoa desejar a minha opinião e eu me recusar a dar. Aí é o outro quem tem de respeitar o meu direito de omissão. Não cabe a frase do tipo: “Mas nós somos tão amigos e temos que dizer tudo um ao outro”. É assim que, com frequência, se perdem bons amigos. É preciso ter cautela com o outro, com o direito do outro. Não basta ter vontade de falar. É preciso que o outro esteja com vontade de ouvir.

Nós nos tornamos inconvenientes e agressivos quando falamos coisas que os outros não estão a fim de ouvir. Raciocínio idêntico vale também para as relações íntimas — entre parentes, em geral, e marido e mulher, em particular. Nesses casos, o desrespeito costuma ser ainda maior. As pessoas dizem e fazem tudo o que lhes passa pela cabeça. É um perigo. Elas não param de se ofender e de se magoar. Acreditam que, só porque são parentes, têm o direito de falar tudo o que pensam, sem se preocupar como o outro irá receber aquelas palavras.

Toda relação humana de respeito implica a necessidade de se imaginar o que pode magoar gratuitamente o outro. É necessário prestar atenção no outro, para evitar agressões, mesmo involuntárias.
Quando as pessoas falam e fazem o que querem, sem se preocupar com a repercussão sobre o outro, é porque nelas predomina o egoísmo ou o desejo de magoar.

Flávio Gikovate
Fonte: Fãs de Psicanalise 



3 comentários:

  1. Oi, Fernanda!
    As pessoas estão cada vez mais complicadas e mal-educadas. Não gosto de telefones e quem é próximo de mim bem sabe. Então se previnem para não me chatear. Acho que isso é cuidado, se colocar no lugar do outro. Me mande uma mensagem: Estou com saudades, vamos marcar um lanche? Daí o sorriso é de orelha a orelha. Mas não me ligue de manhã no final de semana para perguntar qual a boa do final de semana... Deixe que eu ligue...
    Canso de na hora do meu almoço receber ligações da LBV ou de outros lares assistidos. Falta traquejo social para investir em um bom relacionamento com futuros contribuintes assistenciais. O melhor horário? Depois das 15hs, quando toda a urgência da "nossa" vida foi resolvida e podemos nos dedicar ao outro. A compaixão e a amizade também tem hora marcada quando é o telefone o sujeito intrometido e estamos com a mesa cheia de papéis ou a pia cheia de louças. Quando estamos relaxados, somos mais receptivos.
    Beijus,

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  2. Pois é
    É como achar um absurdo um mendigo não aceitar um copo de café dizendo que não gosta ou um cobertor por não precisar ou não sentir frio, parece arrogância, mas a condição de rua dele não exclui suas vontades e necessidades variáveis
    As pessoas acham ofensivo dizer não, acham que sabem mais, que fazem da melhor forma, que tem a melhor receita, que suas intenções são as melhores e a dos outros são no mínimo duvidosas
    Cansativo isso, digo de modo particular
    Não sou compreendida e sou muito julgada pelas minhas negativas, recebo muitas negativas
    Digo e não digo o que certas pessoas ao meu ver precisam ouvir, digo sem esperar ser aplaudida ou até mesmo compreendida, não querendo a razão e cuidando pra não magoar, mas isso não faz diferença
    Tem um ditado que diz:
    Quer conhecer melhor uma pessoa
    Diga não para ela

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  3. Estou procurando uma flor como
    a sua para roubar-lhe o mel...

    Beijos,




    .

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