quinta-feira, 4 de junho de 2015

Casa arrumada



Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa
entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um
cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os
móveis, afofando as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:
Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras
e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições
fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,
passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos...
Netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca
ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias...
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
E reconhecer nela o seu lugar.


Carlos Drummond de Andrade 


2 comentários:

  1. Que lindo texto Fernanda, eu também penso assim. A casa tem que ser viva, embora eu seja muito organizada, mal das virginianas...

    Terminei de ler MIss Bronté, gostei muitp dp jeito como a Juliete Gael escreve, como se também vivesse na era vitoriana e de forma que a gente mergulha na história. Foi como se tivesse viajado para outro tempo e lugar.
    Fiquei muito triste pela Charlotte, puxa, que vida dura, quando finalmente conheceu o amor...não pôde vivê-lo.
    Eu me apaixonei por essa mulher tão sensível e forte ao mesmo tempo, torcia para que ela fosse feliz. E também pelo Arthur, coitado, sofreu tanto por amor...
    Também fiquei impressionada com a repressão das mulheres naquela época, e como elas mesmas contribuíam para essa opressão.
    A vida da Charlotte me lembrou bastante a da Jane Austen, com a diferença que a Jane viveu bem mais e nunca pôde ficar com o homem que amava, morreu solteira.
    Obrigada pela dica Fernanda, gostei muito de conhecer a história das irmãs Bronté, ótimo livro.

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  2. Hoje assistindo Saia Justa ouvi esse texto, achei um máximo, ia procurar amanhã para publicar no meu IG rs, vim dá uma voltinha aqui e dei de cara com ele, olha que máximo... hoje tbm assisti A Teoria de tudo que você indicou a alguns dias atraz, que filme mais lindo, que história... pra pensar!!! Bjos!!!

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Namastê!