segunda-feira, 30 de maio de 2016

A criança interna ferida



"Tente lembrar de quando você era criança. Do que você se lembra?
Da escola? das brincadeiras? dos amigos? da casa onde morava? das viagens que fez?
Quando falamos em infância, pensamos apenas na alegria e na pureza das crianças. E quando pensamos na nossa infância, tentamos nos reconectar somente com essa pureza. Com essas alegrias que ficaram para trás em algum momento.
Mas lá atrás também aconteceram coisas que nos machucaram. Tivemos traumas. Choramos. Sofremos. E aprendemos coisas de uma forma que talvez não fosse a que gostaríamos de ter aprendido.
Essa criança aprendeu a viver a partir desses traumas.
Aprendeu a chorar quando queria leite.
Aprendeu a fazer bico quando não davam o que queriam.
Aprendeu a se isolar no quarto quando era reprimida.
Aprendeu a gritar para ser escutada.
Aprendeu a correr e fugir da briga.
Aprendeu a se armar e ir para o combate.
E assim foram conseguindo se manter vivas.
Com essas defesas conseguimos passar mais um ano aqui na Terra.
E fomos mesclando alegrias com essas defesas. Mesclando diversões com choro, brincadeiras com gritos, amor com bico, histórias vividas e historinhas antes de dormir com fugas, risadas com quartos trancados…
E aí sem menos perceber já éramos adultos.
Absorvemos crenças, assumimos responsabilidades, tentamos nos tornar independentes.
E nos esquecemos da criança que já fomos.
Às vezes nos damos conta disso e tentamos nos lembrar dessa criança. Tentamos resgatar a criança interna.
Mas na verdade, não precisamos nos lembra e nem tentar resgatar.
Nós ainda somos essas crianças.
Somos essa mesma criança, mas nos cobrimos de argila. Jogamos por cima dessa criança um monte de crenças, responsabilidades, ideias falsas de quem somos, máscaras, mentiras e rótulos.
E nesse processo de se conectar com a criança interna, não olhe apenas para as brincadeiras que fazia, pras coisas legais e para as boas lembranças.
Olhe para a criança ferida.
Aquela que chorava, esperneava, corria, gritava e fugia.
Reconecte-se com esses momentos.
E perdoe a si mesmo. Não se culpe. Não queira que as coisas tenham sido diferentes.
Quando você olha para essa criança com um outro olhar, você pode ressiginificar todos os traumas que teve.
Você coloca luz onde existe sombra. E a luz dissolve a sombra.
E pouco a pouco, você vai removendo cada trauma.
E com cada trauma que se vai, liberta-se um pouco mais de quem você é.
Você é essa criança amorosa.
Você é amor.
Amor não é algo que você ganha em troca. Não é algo que alguém te dá.
Amor é o que você é.
Não tente se lembrar de quem você foi. Apenas seja quem você já é." 

Gustavo Tanaka, daqui


Um comentário:

  1. Oi Fernanda, que lindo texto!
    Passei um bom tempo de minha vida cuidando da criança ferida....mas valeu à pena. Hoje ela está bem e feliz...
    Ótima semana para você
    Bjs

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